domingo, 11 de abril de 2010

Sobre fugir...


Tive um namorado que costumava dizer que fui uma criança de filme americano. Tive um amigo invisível, cachorro inseparável, casa na árvore e fugia de casa.

Era sempre assim, toda vez que minha mãe não fazia as minhas vontades, ou me colocava de castigo, eu juntava todas as minhas coisas, amarrava uma corda no pescoço do Mickey (meu cachorro) e fugia.

Meu plano era muito claro: Ir andando até a casa da minha avó (que ficava a uns 5 quarteirões de casa) e de lá pegaria um avião pra Belém para morar na casa dos meus tios. Idealizava toda a minha vida nova, minha escola, amigos e quartos. Imaginava meus novos pais como figuras doces e compreensivas, que iriam me salvar daquela bruxa louca que era a minha progenitora.

Lógico que a fuga acabava sempre do mesmo jeito, eu dava uma volta no quarteirão e voltava chorando pra casa. A minha mãe, como o previsto, nem tinha notado minha fuga, e quando eu ia pedir desculpas a ela, esta só ria e dizia que esse meu instinto de fugir um dia ia passar.

Acontece que não passou. Toda vez que tirava uma nota baixa na escola, o meu primeiro pensamento era me mudar para um cólegio interno, e assim deixar de causar desgosto para os meus pais (drama puro, já que eles pouco se importavam para as pouquissimas notas baixas que eu tirava).

A fuga aconteceu, finalmente, aos meus dezasseis anos, quando alguém destroçou meu coração e me magoou o suficiente para eu não querer morar na mesma cidade. Ocorre que esse fato coincidiu a época em que geralmente os pais, que possuem alguma condição financeira, mandam os seus filhos morarem em um outro Estado para darem prosseguimento aos seus estudos, e assim aconteceu comigo, e eu me mudei de lá.

Quando eu tive a minha segunda desilusão amorosa não tive vontade de fugir. Simplesmente porque dessa vez eu não tinha motivo para tal, a pessoa em questão não me impelia a isso, e eu tinha muitas coisas a terminar por aqui.

Com o tempo entendi que a fuga nada tinha a ver com a incapacidade de lidar com os problemas, estes eram apenas a alavanca que eu precisava para fazer algo que sempre esteve em meu âmago. Viajar, descobrir novas coisas, mudar de ares e pessoas, viver novas histórias, estes sim eram os reais motivos da minha vontade de ir embora.

Bem, o que eu vim fazer nestas terras está para ser concluído, e a vontade de bater as asas começa a se revelar. O problema é que agora tenho a quem deixar, e do que sentir falta, e a pergunta que me faço é: "Será que terei forças para seguir as ordens do meu corção e voar?" Sinceramente não sei.

Sempre admirei pessoas que eram capazes de largar o certo pelo incerto em busca de um sonho, e começo a me questionar se de fato eu sou uma dessas pessoas. Morro de medo de não seguir em frente e eu dia me arrepender, porém deixar tudo o que construi me aperta o coração.

Espero ter determinação o suficiente para conseguir o que quero, pois hoje sei que não se trata de fugir, e sim de me encontrar.

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